25 de dezembro de 2014
Tenho endometriose profunda. Superei a dor. Os focos diminuíram. Engravidei naturalmente. Não usei remédios hormonais. Para superar a endometriose e engravidar, mudei meu estilo de vida. Adotei hábitos saudáveis. O bebê nasceu perfeito e saudável, apesar de um parto traumático.
Superei boa parte das dores do parto por meio da superação da minha incapacidade de amamentar. A amamentação exclusiva foi o maior desafio de minha vida. Desafio maior do que superar a endometriose. Como vencer a dor? Como ter leite suficiente? Como seria possível nutrir meu bebê apenas com o leite do peito? Como se proteger das palavras de crítica e ataques diante de nossa decisão de insistir na amamentação mesmo quando tudo parecia falhar? Eu sou responsável pela vida mais importante do mundo, pela vida, o crescimento, o bem-estar de meu filho, de um frágil bebê.
Amamentar João foi um grande desafio. Meu leite demorou uns 20 dias para descer. O colostro também demorou para descer. A médica pediatra disse que as circunstâncias do parto comprometeram a amamentação.
Além da falta de leite, outros desafios surgiram. O pior deles foi a maceração que atinge 1 a 2% das mulheres. Algo bem pior que fissuras. Meus seios ficaram em carne viva o que provocou uma dor excruciante, a ponto de me levar a surtos de dor. A pegada do bebê no seio estava correta, mas como, no início, o leite demorou para descer (havia, apenas um pouco de colostro), ele mamava por muito tempo em cada peito, e com muita força. Mesmo com a dor, eu prosseguia amamentando. E a situação ficava, a cada dia, pior.
Consultei médicos, enfermeira especialista em amamentação, doula..., mas parecia não haver respostas. Parar de amamentar significaria ter que dar a fórmula, um leite industrializado repleto de suplementos artificiais e carregado de açúcar (maltodextrina). A fórmula é uma das causas de tantas doenças infantis que se vê hoje em dia, como quadros de alergia, diabetes e obesidade. Além disso, segundo pesquisa publicada no New York Times, bebês alimentados com fórmulas terão bem mais dificuldade de aceitar alimentos saudáveis. Bebês alimentados com fórmula dormem menos ou mal à noite. A fórmula tem inúmeras e graves implicações para a saúde a médio e longo prazo. A fórmula, com suas supervitaminas sintéticas e seu doce atrativo facilitador, é um veneno que a indústria, com o aval da maioria dos médicos, oferece aos bebês e crianças.
Em nove anos, nos EUA, segundo pesquisa publicada no NYT, o diabetes tipo 1 em crianças aumentou mais de 20%; e o diabetes tipo 2, 30%. Os especialistas estão atônitos. Não sabem exatamente o motivo, se é devido aos fatores ambientais ou genéticos. Evidentemente, os hábitos de vida, o fim da comida caseira, a invasão de industrializados, o sedentarismo de crianças, pais doentes, a medicalização precoce etc. contribuem com esse quadro alarmante. Mas dar um leite industrializado repleto de açúcar para bebês recém-nascidos certamente altera negativamente o metabolismo desses pequenos, que acabaram de chegar ao mundo. Precisamos refletir sobre as “facilidades” que a indústria oferece, sobre as prescrições médicas. Leite com açúcar pode até engordar o bebê, mas não fará dele um bebê saudável.
Devido à dor dilacerante, eu estava prestes a desmamar João. Ele também não estava ganhando muito peso. Por causa disso, fui acusada de não estar “alimentando” meu filho. Doía horrivelmente meu seio, doía horrivelmente meu peito. No início do processo de amamentação, é normal que a mãe e o bebê enfrentem percalços, que o bebê não engorde tanto quanto muitos desejariam. Mas a vida real é bem diferente das propagandas com bebês pampers. Meu filho não estava gordo, mas estava ganhando peso gradativamente. Em apenas um mês, ele cresceu mais de 5 cm. Mas são em momentos como esse, em que a fragilidade extrema se expõe, que conhecemos as pessoas. Foi preciso nos isolar para conseguir alimentar o bebê. Com tantas observações ferinas, feitas como se nada estivesse acontecendo, não seria possível. O isolamento social que, às vezes, ainda se faz necessário também foi duramente criticado. A vida do meu filho está em primeiro lugar. Eu sentia que precisava tentar de tudo antes de pensar em desistir de amamentá-lo.
Em um dia de dor extrema, cheguei a amamentar João apenas uma vez. Para não dar a fórmula, meu marido aprendeu a preparar um leite indicado para bebês. Um casal muito inteligente e cristão que adotara uma linda bebê havia pesquisado e experimentado, com sucesso, o uso dessa fórmula natural. Quando eu não conseguia amamentar, dávamos esse leite especial, feito com amêndoa e água de coco (Esse leite não possui vitamina B12 nem vitamina D, entre outras. Vitaminas essenciais que o leite materno tem. Portanto, não substitui o leite materno, mas pode ser um substituto aceitável com a administração de outras vitaminas). O preparo do leite, em dias alternados, levava cerca de duas horas. Dávamos em uma sonda, com um apoio de uma seringa, para não acostumar o bebê com mamadeira, segundo a orientação de uma especialista em lactação. Dávamos o leite também após ele mamar no peito. Todo o processo levava um bom tempo.
Mas a dor nos seios só aumentava. Foi quando cheguei a ter surtos de dor. Prestes a desmamar o João, uma médica me disse para usar a bomba elétrica. Em um domingo, decidi procurar uma médica de Botucatu que aluga bombas elétricas. Liguei para um professor da universidade. Ele não tinha o número de telefone dela, mas me indicou o Banco de Leite da Unesp. Minha experiência no banco de leite da Maternidade de Campinas, onde João nasceu, havia sido terrível. Neste lugar, após insistir muito para ser atendida, fui tratada com rispidez, e machucaram muito meus seios. Violência. Apesar da experiência negativa com um banco de leite, que me deixara receosa, como estava em uma situação limite, decidi ligar para o Banco de Leite da Unesp. Uma funcionária muito atenciosa, chamada Thaiane, me atendeu. Ela disse que se eu chegasse na parte da manhã, naquele domingo, ela me receberia, embora o atendimento ao público geral fosse feito durante a semana.
Conseguimos chegar a tempo. Fui atendia por uma profissional incrível. Competente e bondosa, ela me viu, me ouviu, me ensinou, me animou, me compreendeu. Eu estava tão carente de alguém que me acolhesse. Ela me falou, ao ver meus seios: “Você é muita corajosa. Outra pessoa já teria desistido há muito tempo. Seus seios estão muito machucados.” Após contar que amamentou o filho por mais de dois anos, depois de enfrentar muitos desafios, ela me animou e disse: “Você vai conseguir amamentar seu filho.” Essas palavras não saem de minha mente. Naquele dia, eu recebi o amor que foi capaz de me manter firme até aqui. Além de meu marido, encontrei nessa profissional competente e amorosa as palavras que precisava ouvir para superar palavras que jamais deveriam ter sido dirigidas a mim. Agredir uma mulher no puerpério vai além da maldade.
Coloquei em prática o que ela recomendou. Aquele domingo foi determinante para que eu não desistisse. Houve uma melhora significativa na amamentação, mas os seios ainda estavam muito machucados e doíam terrivelmente. Por sugestão de uma amiga, meu marido ligou para uma enfermeira, professora universitária, especialista em amamentação e explicou minha situação. Sem nos conhecer, ela foi atenciosa e, mesmo por telefone, passou instruções importantes. Disse que, provavelmente, eu estava com uma infecção nos seios, por isso as feridas não fechavam e a dor era fortíssima. Recomendou que eu utilizasse alho cru. Passei a ingerir alho cru esmagado com óleo de coco três vezes ao dia, além de ingerir “água de alho” (água deixada por três horas com dentes de alho esmagados). Em poucos dias, a dor começou a diminuir. Em um mês, a infecção estava sob controle. Logo, as feridas começaram cicatrizar. Ao todo, desde o início da amamentação, tive dores durante quatro meses. Mas as feridas, finalmente, cicatrizaram.
Provavelmente, eu tinha uma infecção provocada por fungos. Mesmo remédios muito fortes, por vezes, não são capazes de combater infecções fúngicas. Mas o alho foi medicinal. Mais uma vez o alho, que utilizei para vencer a endometriose e usei durante a gestação, ajudou-me a restaurar minha saúde.
Ainda havia um último desafio, o leite. Desceu leite, mas nem sempre eu tinha leite na quantidade necessária. Certo dia, meu marido foi comprar ovos em um sítio e comentou que eu estava amamentando. A mulher disse que a nora também estava, mas não tinha leite suficiente. Foi ao médico, que prescreveu Equilid. Depois que começou a usar o remédio, teve leite em abundância. Solução perfeita se não fosse um detalhe: esse remédio é um remédio psiquiátrico! Quais efeitos colaterais trarão para essa mulher, a despeito do médico afirmar que é “seguro”? Qual o impacto que terá na saúde do bebê?
Se para ter leite fosse necessário tomar uma droga psiquiátrica, eu não teria leite. Se para ter um filho, fosse necessário fazer uma série de intervenções hormonais, eu optaria por adotar um filho. Mas não foi preciso tomar antidepressivos nem usar hormônios. Com a mudança de estilo de vida, engravidei. Com a alimentação correta, passei a produzir leite em abundância. A impossibilidade se tornou possível. Seja o seu alimento o seu remédio. A vida é uma ciência. A ciência da fé ilumina a ciência dos homens.
Além do desafio de produzir leite, eu ainda estava dependente da bomba elétrica. Dava meu leite na sonda, depois de tirá-lo com a bomba. À noite, acordava de hora em hora para fazer a ordenha. Dia e noite, sem parar. Acabava de fazer a ordenha, esterilizava tudo, dava o leite no peito, o leite da ordenha e, às vezes, quando o bebê se mostrava insatisfeito, dava o complemento, o leite de amêndoa... E começava tudo novamente, sem tréguas. Já me sentia vitoriosa por não ter que usar fórmula, mas meu desejo era a amamentação exclusiva. Quando o bebê recebe outro leite ou é acostumado com outras técnicas de amamentação é um grande desafio conseguir a amamentação exclusiva. Era praticamente impossível. Ele já estava com dois meses. Orei a Deus.
Tentei, algumas vezes, deixar João apenas no peito, mas ele chorava muito. Todas as tentativas foram muito difíceis e frustrantes. Ele havia se acostumado com a sonda, com o leite de amêndoa... Mas não parei de orar. Certa tarde, ao amamentar no peito, desceu tanto leite, que o leite jorrava. João mamou tanto que dormiu nos meus braços. Algo que nunca havia acontecido. No dia seguinte, decidi tentar novamente a amamentação exclusiva. Após um dia exaustivo, de muito choro do João, eu estava prestes a desistir, quando orei a Deus e pedi que, se fosse da vontade dEle que eu insistisse na amamentação exclusiva, João estivesse pesando 4030 Kg no final do dia (Ele havia pesado 3920 Kg de manhã).
Era um sábado. Havia dado de mamar no peito o dia todo, mas com muita dificuldade. No final do dia, decidi que daria o leite pela sonda novamente. Mas ao pesar João, ele estava com exatos 4030 Kg!! Foi algo tão inusitado, que eu não poderia desistir depois disso. Não poderia desistir como havia feito no momento do parto. Continuei. Confiei. É sempre tempo de voltar a confiar.
Em meio às dores da amamentação, sem saber ao certo se conseguiria amamentar meu bebê, abri a Bíblia e li o seguinte verso: “E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam” (Isaías 58:11).
Eu decidi confiar nessas palavras. Todo aquele que confia inteiramente em Deus jamais será decepcionado. Deus me fez manancial para meu filho.
Agora, João mama exclusivamente no peito. Cresce e ganha peso normalmente. Neste primeiro ano, cresceu 25 cm e atingiu a meta de três vezes o peso do nascimento. Não teve nenhuma doença ou mal-estar comuns a bebês, nem mesmo uma leve gripe.
Amamentar o João foi o maior de todos os presentes que recebi de Cristo! O maná. O pão da vida. O leite enviado por Deus.
A oração é minha força. Por meio dela, busquei informações, orientações de profissionais, caminhos de superação. Adotei protocolos (dezenas deles), técnicas (bomba manual, bomba elétrica, sonda etc.), conversei com especialistas (enfermeiras, médicas, técnicas...), fiz muitas leituras, adotei a alimentação necessária, busquei superar as experiências ruins, resisti à pressão social. Não foi nada fácil.
João está prestes a completar um ano de vida. Estou produzindo leite em boa quantidade. Todo o leite que ele precisa. O bebê mama feliz. No sexto mês, começaram as papinhas. João é um bebê ovolactovegetariano, cuja alimentação é composta por vegetais, legumes, frutas e alimentos integrais, além do meu leite. Nada de açúcar, de gorduras prejudiciais, de industrializados. Todos os exames de sangue mostram que sua saúde está excelente. Uma médica pediatra havia nos falado que seria impossível mantê-lo saudável com a dieta vegetariana. Quanta desinformação, quanto preconceito!
Por vezes, chorei porque parecia que havia pouco leite, e orei. Como disse, para superar essa situação, adotei uma nova dieta a fim de estimular a lactação: comida exclusivamente vegetariana, sucos (especialmente de melancia e melão. Li que a melancia aumenta o leite. De fato, senti esse efeito), muita água (no mínimo 5 litros), folhas verdes (moringa oleífera e ora-pro-nobis), alho (encontrei um paper de pesquisadores norte-americanos que indicam a ingestão de alho cru para aumentar o leite), água de coco, coco fresco em mingais, chá de camomila, frutas, legumes, pão integral, canjica com leite de girassol, castanhas ou amêndoas (especialmente indicada para lactação. De fato, aumenta o leite. Quando passei a comer canjica, de manhã e à tarde, meu leite aumentou e não tive mais episódios de baixa de produção. A canjica é rica em ferro, proteínas e vitaminas do complexo B).
Nesse período de lutas, meu marido foi tudo para mim. Um homem maravilhoso que se compadeceu de minha dor e me ajudou o tempo todo. Sem ele, eu não teria conseguido. Sem apoio, penso que nenhuma mulher conseguiria. É preciso ter alguém ao lado. As mãos de Deus nas mãos humanas.
Em meio a essas experiências, compreendi que para ter leite, eu precisava de muito líquido e muito alimento de boa qualidade. Nem o emocional, nem os traumas do parto, nem a dor teriam impacto decisivo na amamentação se eu estivesse bem nutrida e hidratada. Uma experiência muito semelhante a que vivenciei com a endometriose, mas com a adaptação dos alimentos indicados para lactação. Os que alegam (muitos são da ala naturalista e/ou mística) que uma mulher não amamenta por causa de seu “emocional”, culpabilizando-a mais uma vez, estão errados. O problema da dita “medicina alternativa” é que ela se tornou excessivamente emocional.
O que aconteceu me ajudou a compreender melhor o significado grandioso do novo nascimento. Eu não posso fazer o João nascer de novo. O tempo não volta. Mas Cristo promete o renascimento, entende e transforma minha dor. Ao vencer, a cada dia, o desafio da amamentação, por meio de hábitos saudáveis, e sustentar o pequeno com o leite que sai de mim, sinto que das mãos de Cristo me foi concedida a dádiva de ver João nascendo de novo, envolto em meus braços após tantas separações.