-- Quanto leite a mamãe tem?
-- Dez leites.
-- A mamãe tem bastante leite?
-- Bastantão.
-- Quem deu leite para mamãe?
-- Jesus.
Deram fórmula para o
João quando ele nasceu. A dor que senti no quarto escuro, hospital frio,
naquela noite longa de chuva forte minhas próprias palavras não descrevem. A
luta só estava começando.
O leite materno flui, por anos necessários, como cordão
umbilical líquido a ligar mãe e filho após o nascimento. João, com dois anos,
tão menininho, dependente, se liga a mim também por fios de leite que meu corpo
continua produzindo. Aquilo que sou, o que como, minhas emoções, meu sangue
convertido em leite seguem construindo o João, aquilo que ele é e há de ser. As
mães hebreias, dizem, amamentavam seus bebês até os três anos. Hoje, amamentar
é estranheza.
A fórmula infantil bota a criança para dormir. Seu primeiro
ingrediente, a maltodrextrina, o açúcar, faz a criança dormir mais, reduzindo o
tempo do aprendizado. Ela faz pior.
Os olhos grandes do João ficaram fechados por pouco tempo.
Ele tomou 200 ml de fórmula. Joguei fora a lata. Usamos um pouco de leite
alternativo junto com o leite materno.
Faltou leite. Meu leite desceu apenas no vigésimo dia. Meus
seios ficaram macerados. Uma lesão muito mais profunda do que fissuras
doloridas. Tive uma infecção provocada por fungos. Tive mastite. Tive surtos de dor.
Mas encontrei alguém, uma quase estranha, que me disse: “Eu
entendo sua dor. Se fosse outra mãe, já teria desistido. Você vai conseguir amamentar
seu filho.” Houve dias que João parecia estar desmamado. Tentei de tudo.
Busquei todo tipo de aconselhamento técnico.
A dor insuportável, eu suportei por quase quatro meses. Mas
ela se foi. A infecção se curou, aos poucos, com o uso maciço de alho cru.
Conselho de uma sábia enfermeira. O emocional foi cicatrizando por meio de um
isolamento social necessário, por palavras de amor que recebi de lugares
improváveis. Eu precisava nutrir meu filho, ele precisava ser nutrido por mim.
Minha fé ressurgia. Certo dia, orei. Disse a Deus que se meu
filho não estivesse pesando 4,03 Kg, eu daria fórmula. Chegara ao meu limite,
após quase quatro meses de intensa luta. No final do dia, meu marido sem saber
de minha oração, pesou o João e veio me dizer: “Ele está com 4,03.” Ele havia
pesado 3920 Kg de manhã. Não tive dúvidas de que Deus estava ao meu lado. Ele
me faria encontrar o caminho. Que a luta para amamentar é luta essencial!
Em meio às dores da amamentação, sem saber ao certo se
conseguiria amamentar meu bebê, abri a Bíblia e li o seguinte verso: “E o
Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e
fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial,
cujas águas nunca faltam” (Isaías 58:11).
O leite desceu em profusão. João mamou exclusivamente dos
quatro aos seis meses. Nunca mais o leite faltou, nunca mais o leite diminuiu.
Crer em Deus é força e ciência. Eu encontrei as informações certas, em um mar
de descaminhos técnicos e informacionais na área da saúde. Encontrei os
alimentos certos que deveria ingerir para produzir leite. Encontrei amor em
terra árida.
A fórmula, seja de leite animal ou vegetal, além de manter
por mais tempo os olhos do bebê fechados, rouba a chance de essa criança beber
o leite da mãe. Não há espaço para dois leites. Quando há fórmula, menos leite
da mãe a criança mama. Não há cooperação entre fórmula e leite materno. A
fórmula sempre ganha, a criança se perde. Ela engorda, é verdade. Ela fica
suprida de vitamina B12 sintética, entre outras, é verdade. Mas ela perde em
saúde, em resistência a infecções, em vínculo com a mãe que, antes, na
antiguidade, se estendia pelo menos por um triênio. O triênio mais importante
da vida de uma pessoa.
A fórmula infantil não tem nada de inocente. Pesquisadores
da Universidade de Massachusetts concluíram que a ingestão de fórmula está
relacionada com o desenvolvimento de diabetes
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10794497). Uma ampla pesquisa que avaliou
161 estudos concluiu que a amamentação protege contra o diabetes, enquanto a
fórmula predispõe a criança à doença
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22946851).
Em nove anos, nos EUA, segundo pesquisa publicada no NYT, o
diabetes tipo 1 em crianças aumentou mais de 20%; e o diabetes tipo 2, 30%. Os
especialistas estão atônitos.
Amamentar não é apenas um benefício a mais para a vida da
criança. Amamentar é central para a vida. O leite artificial, a fórmula, é
altamente prejudicial à saúde dos pequenos. A fórmula não está associada apenas
à epidemia de diabetes em crianças, mas a inúmeras doenças, tais como: infecção
no ouvido, infecções respiratórias, infecções gastrointestinais, enterocolite
necrosante, obesidade, doenças metabólicas, desenvolvimento cognitivo e motor
reduzido, maior risco de mortalidade infantil, asma, dermatite atópica. E,
finalmente, maior risco de leucemia em crianças alimentadas com fórmula. Todos
esses dados foram publicados na revista Obstetrics & Gynecology
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2812877/).
O mesmo estudo diz que a mãe que amamenta, por mais de 18
meses, tem risco menor de ter câncer de mama. Há também risco menor de câncer
de ovário, pois o corpo produz, enquanto a mulher amamenta, anticorpos para
combater a mastite. Tive mastite também. Dói, mas salva.
O leite da mãe é vacina. É amor comunicado em anticorpos que
fábrica nenhuma é capaz de vender. O leite da mãe é vitamina orgânica, na
medida certa, na temperatura adequada, aquecendo a boquinha do neném, que suga
confiante o alimento que ele aprende desde cedo que só a mãe pode dar. Ele
aprende que a mãe supre.
Tudo que me disseram para me dissuadir de alimentar meu
filho não me aflige mais. Mas no início era de uma força avassaladora. Eu não
estava preparada para enfrentar o tsumani que viria em meu corpo e em minhas
relações sociais. Que mãe deixaria o filho passar fome? Que mãe colocaria a
vida do filho em risco? Eu sentia o peso dessas acusações sem fundamento, e
elas me afligiam. João ficou mais magrinho. João ganhou peso mais devagar. Mas
isso era o normal. Não parecia normal visto que o mundo vive na anormalidade.
João nasceu com 48 cm, como seu pai. João ganhou 25 cm no
primeiro ano. João cresceu 12,5 cm no segundo ano. O perímetro cefálico do João
chegou exatamente às dimensões adequadas. Todas as medidas estão dentro do
recomendado pela área médica.
João é um bebê em atividade constante, e calmo. Dorme a
noite toda, é muito sorridente. Sempre foi assim. Falou sua primeira palavra
com seis meses e com dez meses já falava umas 50 palavras, além de reconhecer
cores e números em páginas. Nessa mesma idade, encaixava todas as formas
geométricas de seu brinquedo. Com 1 ano e 8 meses, disse duas frases, unindo
onze palavras. Agora, começa a fazer contas e reconhecer mais e mais palavras
impressas em livros, além de escrever a letra “A”, e recitá-la como se fosse um
poema, após vê-la timbrada por ele no papel. João corre pelo pasto e brinca
livremente. Ama sua bezerra chamada Tetê.
João também é vegetariano. Ele nunca ficou doente. Nunca
teve sequer uma cólica. Certa vez, ele
teve um início de gripe que durou apenas um dia. Ficou pendurado no peito o dia
todo. No dia seguinte, estava bem.
Agora, estão dizendo para o João que já está na hora dele
desmamar. As comadres dizem isso, o mercado de trabalho diz isso, linhas
psicanalíticas que permeiam consultórios médicos equivocados dizem isso. Mas o
bezerrinho continua mamando feliz, graças a Deus. Essa foi uma das maiores
graças que recebi em minha vida.
Se você está tentando amamentar e não consegue, não desista.
Não desista, você vai conseguir.
Há alimentos que farão você produzir leite. Há técnicas que
farão seu bebê mamar melhor. Há um poder que lhe dará leite e lhe mostrará o
caminho. Não escute o que irão falar. Não abra espaço para a fórmula, jamais.
Nem uma gota. Se começou a usá-la, jogue a lata fora. Lute pelo seu filho.
Mesmo que você seja desacreditada e falem de você todo tipo de inverdades, você
precisa acreditar que a fórmula não faz bem, que a amamentação é vida, que o
caminho certo levanta mesmo oposições de todo tipo.
Há evidências emocionantes sobre os benefícios da
amamentação, embora sejam escassas. Há ciência sobre o bem que amamentar faz, e
também ciência que denuncia o mal que a fórmula impõe. Mas é preciso acreditar
antes que surjam as evidências, antes que o bebê cresça. Porque quando ele
crescer, você verá o valor das boas escolhas.
Eu escrevi este texto em 2016.