terça-feira, 6 de janeiro de 2015

“Eu apoio a amamentação.” Será mesmo?


6 de janeiro de 2015

Quando João nasceu, fomos a uma pediatra formada pela Unicamp, que atendia em Campinas.

Eu estava amamentando João quando ela chegou para nos atender.

Não havia local reservado para amamentar e o consultório era pequeno. A porta de entrada para a sala da médica estava no meio da minúscula sala de espera. Quase tropeçando em mim e no bebê e já entrando em sua sala, ela disse, com ar de pressa: “Entre.” Entre? Já? Mas eu acabara de colocar o bebê para mamar. Ela sabia da minha luta gigantesca para fazer meu filho mamar e ganhar peso. Tirei o João do peito e entrei. Eu pensava que precisava daquela consulta justamente para conseguir amamentar.

Quanta hipocrisia! Tanto na sala de espera quanto na sala da pediatra havia um cartaz dizendo: “Eu apoio a amamentação.” Ela também sugeriu que eu usasse fórmula, enquanto o leite não descia. Havia só colostro... O pior profissional é aquele que diz ser o que não é. Não diga nada. Ou então, diga: “Eu apoio a fórmula infantil.” Sim, eu sei. A fórmula deixa a vida de alguns pediatras bem mais fácil, o bebê engorda; e o consultório cheio, o bebê adoece.


Não voltei mais naquele consultório. Primeiro, porque a despeito da falta de estímulo e orientação daquela pediatra, eu aprendi a amamentar. Segundo, porque sendo amamentado, meu filho não adoeceu.  


Conheça meu novo blog: Beith LehemA Casa do Pão.

Fórmula infantil: solução?


6 de janeiro de 2015


João vai completar 1 ano. O único leite que ele toma é o leite da mamãe. Eu poderia ter desistido. Ele estava praticamente desmamado com poucos meses de vida. A partir de minha experiência, eu afirmo: amamentar é, sim, possível! Mesmo que seu filho esteja praticamente desmamado. Mesmo que ele esteja perdendo peso ou não ganhando o suficiente. 


Sim, a pressão para dar fórmula é indescritível. Que mãe é essa que não dá a fórmula para o filho que está ávido por leite? Ver uma pessoa segurando o João, meu primeiro filho, repetindo para ele "sua mãe não o alimenta", foi triste demais. Peguei meu filho dos braços dela e não voltei mais naquele lugar enquanto a pior fase não havia passado.

Meu marido me apoiou e juntos lutamos com todas as forças para eu conseguir amamentar o João. Pedimos sabedoria e forças a Deus, em oração. E pesquisamos muito.

Meu filho ficou mais magro do que os bebês de sua idade. Mas eu não desisti. Resisti à pressão. Por quê? Será que a fórmula infantil é tão ruim assim? Sim, a fórmula infantil é muito prejudicial ao bebê, por diversos aspectos. Amamentar dá saúde à mãe e ao seu filho, fortalecendo também o vínculo entre os dois. Já a fórmula embora tenha nutrientes artificiais e faça engordar, produz doenças e quebra o vínculo mãe-bebê. 

Neste último fim de semana, eu recebi amigos em casa. Uma mulher com quatro filhos crescidos. O filho mais novo tem 13 anos. Ela teve ele aos 36 anos. Eu tive João aos 37 anos. Ela me contou que o menino chorava sem parar. A sogra, muito religiosa, queria levar na benzedeira. O pai, sitiante rico e muito supersticioso, apoiou a ideia. Mas ela disse "não". Descartada qualquer doença, chegaram à conclusão de que se tratava de fome. O menino chorava de fome. O leite dela não estava suprindo as necessidades do bebê. Ela não tinha leite suficiente.

Sim, é comum mulheres mais velhas não terem leite. A minha experiência foi muito semelhante. Li um estudo da Unicamp que constatou que mulheres mais velhas produziam menos leite. Por isso, a afirmação de que a mulher sempre tem leite não é real. Sim, pode faltar leite. Faltou leite pra minha amiga, faltou leite em mim. Mas como já contei é possível reverter a situação. Com todas as mudanças que fiz, eu comecei a produzir leite suficiente para engordar o João e nutri-lo.   

Voltando à história de minha amiga... Ela deu fórmula para o filho. Ele teve uma forte reação alérgica e ficou internado 15 dias no hospital. Depois, teve de ser medicado com todo tipo de antibiótico, pois pegara uma infecção no hospital... Em casa, teve de tomar vários tipos de leite. Até que chegaram ao leite de soja, ao qual o bebê se adaptou. Mas sabe-se que a soja tem efeito hiperestrogênico, entre outros. Em meninas, pode levar à puberdade precoce. Em meninos, também tem ação danosa no organismo.

Hoje, lendo um artigo no New York Times, encontrei um comentário interessante. O artigo fala sobre o perigo de laxantes (Miralax) para crianças que apesar de serem considerados seguros por pediatras estão se mostrando potencialmente perigosos. Entre os efeitos colaterais, estariam desordens psiquiátricas. Crianças constipadas, medicadas e adoecidas gravemente! Em que sociedade estamos vivendo! Uma mulher de Boston conta, na seção dos comentários, que seu bebê não ganhava peso. Ela "teve" de dar a fórmula. Por causa da fórmula, o bebê ficou constipado. Ela "teve" que medicá-lo com Miralax. O próximo passo talvez seja a Ritalina...


Meu bebê não teve sequer um dia de constipação, diarreia ou sangue nas fezes. Ele é amamentado. Eu sou vegetariana. Ele é vegetariano. Vai fazer um ano de idade. Ganhou os 25 cm recomendados e engordou três vezes o peso do nascimento, mesmo tendo ficado mais magro no início. Nunca teve qualquer gripe, febre ou indisposição. Não há leite igual o da mãe. E acredite: Você pode amamentar! Amamentar é possível! Não desista.



O renascimento de João



25 de dezembro de 2014

Tenho endometriose profunda. Superei a dor. Os focos diminuíram. Engravidei naturalmente. Não usei remédios hormonais. Para superar a endometriose e engravidar, mudei meu estilo de vida. Adotei hábitos saudáveis. O bebê nasceu perfeito e saudável, apesar de um parto traumático.

Superei boa parte das dores do parto por meio da superação da minha incapacidade de amamentar. A amamentação exclusiva foi o maior desafio de minha vida. Desafio maior do que superar a endometriose. Como vencer a dor? Como ter leite suficiente? Como seria possível nutrir meu bebê apenas com o leite do peito? Como se proteger das palavras de crítica e ataques diante de nossa decisão de insistir na amamentação mesmo quando tudo parecia falhar? Eu sou responsável pela vida mais importante do mundo, pela vida, o crescimento, o bem-estar de meu filho, de um frágil bebê.

Amamentar João foi um grande desafio. Meu leite demorou uns 20 dias para descer. O colostro também demorou para descer. A médica pediatra disse que as circunstâncias do parto comprometeram a amamentação.

Além da falta de leite, outros desafios surgiram. O pior deles foi a maceração que atinge 1 a 2% das mulheres. Algo bem pior que fissuras. Meus seios ficaram em carne viva o que provocou uma dor excruciante, a ponto de me levar a surtos de dor. A pegada do bebê no seio estava correta, mas como, no início, o leite demorou para descer (havia, apenas um pouco de colostro), ele mamava por muito tempo em cada peito, e com muita força. Mesmo com a dor, eu prosseguia amamentando. E a situação ficava, a cada dia, pior.

Consultei médicos, enfermeira especialista em amamentação, doula..., mas parecia não haver respostas. Parar de amamentar significaria ter que dar a fórmula, um leite industrializado repleto de suplementos artificiais e carregado de açúcar (maltodextrina). A fórmula é uma das causas de tantas doenças infantis que se vê hoje em dia, como quadros de alergia, diabetes e obesidade. Além disso, segundo pesquisa publicada no New York Times, bebês alimentados com fórmulas terão bem mais dificuldade de aceitar alimentos saudáveis. Bebês alimentados com fórmula dormem menos ou mal à noite. A fórmula tem inúmeras e graves implicações para a saúde a médio e longo prazo. A fórmula, com suas supervitaminas sintéticas e seu doce atrativo facilitador, é um veneno que a indústria, com o aval da maioria dos médicos, oferece aos bebês e crianças.

Em nove anos, nos EUA, segundo pesquisa publicada no NYT, o diabetes tipo 1 em crianças aumentou mais de 20%; e o diabetes tipo 2, 30%. Os especialistas estão atônitos. Não sabem exatamente o motivo, se é devido aos fatores ambientais ou genéticos. Evidentemente, os hábitos de vida, o fim da comida caseira, a invasão de industrializados, o sedentarismo de crianças, pais doentes, a medicalização precoce etc. contribuem com esse quadro alarmante. Mas dar um leite industrializado repleto de açúcar para bebês recém-nascidos certamente altera negativamente o metabolismo desses pequenos, que acabaram de chegar ao mundo. Precisamos refletir sobre as “facilidades” que a indústria oferece, sobre as prescrições médicas. Leite com açúcar pode até engordar o bebê, mas não fará dele um bebê saudável.

Devido à dor dilacerante, eu estava prestes a desmamar João. Ele também não estava ganhando muito peso. Por causa disso, fui acusada de não estar “alimentando” meu filho. Doía horrivelmente meu seio, doía horrivelmente meu peito. No início do processo de amamentação, é normal que a mãe e o bebê enfrentem percalços, que o bebê não engorde tanto quanto muitos desejariam. Mas a vida real é bem diferente das propagandas com bebês pampers. Meu filho não estava gordo, mas estava ganhando peso gradativamente. Em apenas um mês, ele cresceu mais de 5 cm. Mas são em momentos como esse, em que a fragilidade extrema se expõe, que conhecemos as pessoas. Foi preciso nos isolar para conseguir alimentar o bebê. Com tantas observações ferinas, feitas como se nada estivesse acontecendo, não seria possível. O isolamento social que, às vezes, ainda se faz necessário também foi duramente criticado. A vida do meu filho está em primeiro lugar. Eu sentia que precisava tentar de tudo antes de pensar em desistir de amamentá-lo.

Em um dia de dor extrema, cheguei a amamentar João apenas uma vez. Para não dar a fórmula, meu marido aprendeu a preparar um leite indicado para bebês. Um casal muito inteligente e cristão que adotara uma linda bebê havia pesquisado e experimentado, com sucesso, o uso dessa fórmula natural. Quando eu não conseguia amamentar, dávamos esse leite especial, feito com amêndoa e água de coco (Esse leite não possui vitamina B12 nem vitamina D, entre outras. Vitaminas essenciais que o leite materno tem. Portanto, não substitui o leite materno, mas pode ser um substituto aceitável com a administração de outras vitaminas). O preparo do leite, em dias alternados, levava cerca de duas horas. Dávamos em uma sonda, com um apoio de uma seringa, para não acostumar o bebê com mamadeira, segundo a orientação de uma especialista em lactação. Dávamos o leite também após ele mamar no peito. Todo o processo levava um bom tempo.

Mas a dor nos seios só aumentava. Foi quando cheguei a ter surtos de dor. Prestes a desmamar o João, uma médica me disse para usar a bomba elétrica. Em um domingo, decidi procurar uma médica de Botucatu que aluga bombas elétricas. Liguei para um professor da universidade. Ele não tinha o número de telefone dela, mas me indicou o Banco de Leite da Unesp. Minha experiência no banco de leite da Maternidade de Campinas, onde João nasceu, havia sido terrível. Neste lugar, após insistir muito para ser atendida, fui tratada com rispidez, e machucaram muito meus seios. Violência. Apesar da experiência negativa com um banco de leite, que me deixara receosa, como estava em uma situação limite, decidi ligar para o Banco de Leite da Unesp. Uma funcionária muito atenciosa, chamada Thaiane, me atendeu. Ela disse que se eu chegasse na parte da manhã, naquele domingo, ela me receberia, embora o atendimento ao público geral fosse feito durante a semana.

Conseguimos chegar a tempo. Fui atendia por uma profissional incrível. Competente e bondosa, ela me viu, me ouviu, me ensinou, me animou, me compreendeu. Eu estava tão carente de alguém que me acolhesse. Ela me falou, ao ver meus seios: “Você é muita corajosa. Outra pessoa já teria desistido há muito tempo. Seus seios estão muito machucados.” Após contar que amamentou o filho por mais de dois anos, depois de enfrentar muitos desafios, ela me animou e disse: “Você vai conseguir amamentar seu filho.” Essas palavras não saem de minha mente. Naquele dia, eu recebi o amor que foi capaz de me manter firme até aqui. Além de meu marido, encontrei nessa profissional competente e amorosa as palavras que precisava ouvir para superar palavras que jamais deveriam ter sido dirigidas a mim. Agredir uma mulher no puerpério vai além da maldade.

Coloquei em prática o que ela recomendou. Aquele domingo foi determinante para que eu não desistisse. Houve uma melhora significativa na amamentação, mas os seios ainda estavam muito machucados e doíam terrivelmente. Por sugestão de uma amiga, meu marido ligou para uma enfermeira, professora universitária, especialista em amamentação e explicou minha situação. Sem nos conhecer, ela foi atenciosa e, mesmo por telefone, passou instruções importantes. Disse que, provavelmente, eu estava com uma infecção nos seios, por isso as feridas não fechavam e a dor era fortíssima. Recomendou que eu utilizasse alho cru. Passei a ingerir alho cru esmagado com óleo de coco três vezes ao dia, além de ingerir “água de alho” (água deixada por três horas com dentes de alho esmagados). Em poucos dias, a dor começou a diminuir. Em um mês, a infecção estava sob controle. Logo, as feridas começaram cicatrizar. Ao todo, desde o início da amamentação, tive dores durante quatro meses. Mas as feridas, finalmente, cicatrizaram.

Provavelmente, eu tinha uma infecção provocada por fungos. Mesmo remédios muito fortes, por vezes, não são capazes de combater infecções fúngicas. Mas o alho foi medicinal. Mais uma vez o alho, que utilizei para vencer a endometriose e usei durante a gestação, ajudou-me a restaurar minha saúde.

Ainda havia um último desafio, o leite. Desceu leite, mas nem sempre eu tinha leite na quantidade necessária. Certo dia, meu marido foi comprar ovos em um sítio e comentou que eu estava amamentando. A mulher disse que a nora também estava, mas não tinha leite suficiente. Foi ao médico, que prescreveu Equilid. Depois que começou a usar o remédio, teve leite em abundância. Solução perfeita se não fosse um detalhe: esse remédio é um remédio psiquiátrico! Quais efeitos colaterais trarão para essa mulher, a despeito do médico afirmar que é “seguro”? Qual o impacto que terá na saúde do bebê?

Se para ter leite fosse necessário tomar uma droga psiquiátrica, eu não teria leite. Se para ter um filho, fosse necessário fazer uma série de intervenções hormonais, eu optaria por adotar um filho. Mas não foi preciso tomar antidepressivos nem usar hormônios. Com a mudança de estilo de vida, engravidei. Com a alimentação correta, passei a produzir leite em abundância. A impossibilidade se tornou possível. Seja o seu alimento o seu remédio. A vida é uma ciência. A ciência da fé ilumina a ciência dos homens.

Além do desafio de produzir leite, eu ainda estava dependente da bomba elétrica. Dava meu leite na sonda, depois de tirá-lo com a bomba. À noite, acordava de hora em hora para fazer a ordenha. Dia e noite, sem parar. Acabava de fazer a ordenha, esterilizava tudo, dava o leite no peito, o leite da ordenha e, às vezes, quando o bebê se mostrava insatisfeito, dava o complemento, o leite de amêndoa... E começava tudo novamente, sem tréguas. Já me sentia vitoriosa por não ter que usar fórmula, mas meu desejo era a amamentação exclusiva. Quando o bebê recebe outro leite ou é acostumado com outras técnicas de amamentação é um grande desafio conseguir a amamentação exclusiva. Era praticamente impossível. Ele já estava com dois meses. Orei a Deus.

Tentei, algumas vezes, deixar João apenas no peito, mas ele chorava muito. Todas as tentativas foram muito difíceis e frustrantes. Ele havia se acostumado com a sonda, com o leite de amêndoa... Mas não parei de orar. Certa tarde, ao amamentar no peito, desceu tanto leite, que o leite jorrava. João mamou tanto que dormiu nos meus braços. Algo que nunca havia acontecido. No dia seguinte, decidi tentar novamente a amamentação exclusiva. Após um dia exaustivo, de muito choro do João, eu estava prestes a desistir, quando orei a Deus e pedi que, se fosse da vontade dEle que eu insistisse na amamentação exclusiva, João estivesse pesando 4030 Kg no final do dia (Ele havia pesado 3920 Kg de manhã).

Era um sábado. Havia dado de mamar no peito o dia todo, mas com muita dificuldade. No final do dia, decidi que daria o leite pela sonda novamente. Mas ao pesar João, ele estava com exatos 4030 Kg!! Foi algo tão inusitado, que eu não poderia desistir depois disso. Não poderia desistir como havia feito no momento do parto. Continuei. Confiei. É sempre tempo de voltar a confiar.

Em meio às dores da amamentação, sem saber ao certo se conseguiria amamentar meu bebê, abri a Bíblia e li o seguinte verso: “E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam” (Isaías 58:11).

Eu decidi confiar nessas palavras. Todo aquele que confia inteiramente em Deus jamais será decepcionado. Deus me fez manancial para meu filho.

Agora, João mama exclusivamente no peito. Cresce e ganha peso normalmente. Neste primeiro ano, cresceu 25 cm e atingiu a meta de três vezes o peso do nascimento. Não teve nenhuma doença ou mal-estar comuns a bebês, nem mesmo uma leve gripe.

Amamentar o João foi o maior de todos os presentes que recebi de Cristo! O maná. O pão da vida. O leite enviado por Deus.

A oração é minha força. Por meio dela, busquei informações, orientações de profissionais, caminhos de superação. Adotei protocolos (dezenas deles), técnicas (bomba manual, bomba elétrica, sonda etc.), conversei com especialistas (enfermeiras, médicas, técnicas...), fiz muitas leituras, adotei a alimentação necessária, busquei superar as experiências ruins, resisti à pressão social. Não foi nada fácil.

João está prestes a completar um ano de vida. Estou produzindo leite em boa quantidade. Todo o leite que ele precisa. O bebê mama feliz. No sexto mês, começaram as papinhas. João é um bebê ovolactovegetariano, cuja alimentação é composta por vegetais, legumes, frutas e alimentos integrais, além do meu leite. Nada de açúcar, de gorduras prejudiciais, de industrializados. Todos os exames de sangue mostram que sua saúde está excelente. Uma médica pediatra havia nos falado que seria impossível mantê-lo saudável com a dieta vegetariana. Quanta desinformação, quanto preconceito!

Por vezes, chorei porque parecia que havia pouco leite, e orei. Como disse, para superar essa situação, adotei uma nova dieta a fim de estimular a lactação: comida exclusivamente vegetariana, sucos (especialmente de melancia e melão. Li que a melancia aumenta o leite. De fato, senti esse efeito), muita água (no mínimo 5 litros), folhas verdes (moringa oleífera e ora-pro-nobis), alho (encontrei um paper de pesquisadores norte-americanos que indicam a ingestão de alho cru para aumentar o leite), água de coco, coco fresco em mingais, chá de camomila, frutas, legumes, pão integral, canjica com leite de girassol, castanhas ou amêndoas (especialmente indicada para lactação. De fato, aumenta o leite. Quando passei a comer canjica, de manhã e à tarde, meu leite aumentou e não tive mais episódios de baixa de produção. A canjica é rica em ferro, proteínas e vitaminas do complexo B).

Nesse período de lutas, meu marido foi tudo para mim. Um homem maravilhoso que se compadeceu de minha dor e me ajudou o tempo todo. Sem ele, eu não teria conseguido. Sem apoio, penso que nenhuma mulher conseguiria. É preciso ter alguém ao lado. As mãos de Deus nas mãos humanas.

Em meio a essas experiências, compreendi que para ter leite, eu precisava de muito líquido e muito alimento de boa qualidade. Nem o emocional, nem os traumas do parto, nem a dor teriam impacto decisivo na amamentação se eu estivesse bem nutrida e hidratada. Uma experiência muito semelhante a que vivenciei com a endometriose, mas com a adaptação dos alimentos indicados para lactação. Os que alegam (muitos são da ala naturalista e/ou mística) que uma mulher não amamenta por causa de seu “emocional”, culpabilizando-a mais uma vez, estão errados. O problema da dita “medicina alternativa” é que ela se tornou excessivamente emocional.

O que aconteceu me ajudou a compreender melhor o significado grandioso do novo nascimento. Eu não posso fazer o João nascer de novo. O tempo não volta. Mas Cristo promete o renascimento, entende e transforma minha dor. Ao vencer, a cada dia, o desafio da amamentação, por meio de hábitos saudáveis, e sustentar o pequeno com o leite que sai de mim, sinto que das mãos de Cristo me foi concedida a dádiva de ver João nascendo de novo, envolto em meus braços após tantas separações.

O nascimento do João

23 de dezembro de 2014

João, meu querido filho, nasceu em janeiro deste ano.

Era sábado. As primeiras contrações vieram de madrugada. Durante nove meses, sem pensar na dor, construí certas imagens esparsas dessa chegada. Mas jamais imaginei que passaria por dores além das dores do parto.

Escolhemos um médico precursor em parto humanizado em Campinas. Pagamos adiantado por um parto normal. Mas sofri todo tipo de violência. Durante todo o processo, ele forçou uma cesárea, a qual acabei sendo submetida. Para impor a cesárea, ele disse que meu bebê era grande demais para o parto normal e estava com 4 Kg (o bebê nasceu com um pouco menos de 3 Kg, o que o ultrassom já apontava); disse que os movimentos do bebê estavam reduzidos (sugeriu que ele não tinha forças para um parto normal. Fiquei arrasada antes do parto, pensando que meu bebê não estava bem, mas o ultrassom em uma clínica particular mostrou que era um bebê forte, e saudável, o que ficou comprovado após o nascimento); me deixou com contrações vários dias sem atendimento (foi viajar para praia); disse que eu não tinha dilatação suficiente (eu estava com dilatação, o que outra médica comprovou); furou a bolsa para evitar que o processo se estendesse; quando eu estava em trabalho de parto, com contrações de 1 em 1 min., falou que se eu insistisse, “o bebê não aguentaria”, pois seu coração já não estava batendo bem (apenas uma fala inconsequente e absurda, sem a fundamentação de qualquer exame médico. O bebê tem a saúde perfeita. Até hoje não teve sequer uma febre leve, gripe ou virose). Esse último argumento, feito em meio às fortes contrações que sentia, fez-me aceitar a cesárea.

No sábado das primeiras contrações, o médico não estava na cidade. Decidira passar o fim de semana na praia. Eu dizia, com medo, ao João: “Não nasça ainda, seu médico não está.” Repeti essa frase no domingo e na segunda, entre dores, quando as contrações intensas chegavam de 3 em 3 minutos, 2 em 2 minutos e, então, se tornaram seguidas. Sempre à noite. João encaixado, colo do útero fino, contrações regulares, dilatação de 4 cm, avançando rapidamente. Então, em meio às dores finais, na terça, insistimos que o médico viesse até o apartamento. Ele disse que seria cesárea. Após tanto abandono, aceitei a cesárea.

Outro médico aplicou a anestesia raquidiana, enquanto eu sentia contrações intensas. Durante o procedimento médico para realização da cesárea, uma artéria se rompeu e tive uma hemorragia, controlada a tempo. O médico que fez a anestesia ficou nervoso, disse ao obstetra que ele era o responsável, pois tinha me deixado em trabalho de parto por horas seguidas... Corri risco de morte.

Em alguns minutos, João nasceu, mas não pude tê-lo em meus braços. O mesmo médico que havia propagandeado um parto normal, humanizado, em ambiente hospitalar..., abandonou-me em um canto qualquer daquele hospital, separada de meu filho, numa noite chuvosa. Fomos separados em salas de recuperação diferentes. Fiquei sozinha, com o corpo paralisado pela anestesia, em uma maca jogada ao lado, sem qualquer assistência. João ficou só numa maca pequena sem o calor de sua mãe. Acabara de nascer e estava só. Após três horas, pude finalmente ter João nos braços.

Depois do parto, fomos obrigados a dar fórmula ao bebê. Ele nasceu bem, com toda vitalidade. Mas souberam que eu era “naturalista” (alguém nos rotulou e as enfermeiras repetiam o rótulo que eu mesma não defini para mim), e então deduziram que o bebê precisava de reforço. Resultado: ele não quis o peito. Amamentar se tornou um imenso desafio, do qual eu não desistiria jamais.

Fomos a uma consulta com uma pediatra da Unicamp. Ela disse que o médico que eu havia escolhido, realmente, no passado, havia realizado muitos partos humanizados, normais, na água..., mas que agora, transformara-se em “outra pessoa”. Desumanizou-se. A médica me disse: “Ele inventou que seu filho não tinha os batimentos cardíacos normais.” Esse médico, participa de programas de TV, vende um ideal na internet, em seu site, mas não vive esse ideal. Engana as mulheres, recebe seu dinheiro e, após promessas de um parto normal, faz, na maioria das vezes, cesárea, embora mantenha um site ilusório, com histórias que retratam um médico que ele, decididamente, não é, se é que realmente um dia foi.

A violência que implode nas ruas, expondo a falência de um país, está transbordando em pessoas, sejam próximas, da família, intelectualizadas, bem conceituadas, endinheiradas ou não. O amor está se esfriando de quase todos, e a iniquidade cresce como nunca antes. Meu filho nasceu em tempos de guerra. Caímos nas mãos do mundo, mas não fomos vencidos por ele.

O nascimento do bebê João é o acontecimento mais feliz de minha vida. Mas estou relatando as dificuldades pelas quais passei porque essa experiência tem a ver também com a experiência de milhares de mulheres, inclusive das que têm endometriose e procuram por um médico, um tratamento. Inúmeras vezes, se querem seguir um caminho alternativo, são desacreditadas, humilhadas e julgadas. São expostas a todo tipo de violência, entre cirurgias e consultas. Se seguem o tratamento padrão, por vezes, descobrem que não houve resultado. A saúde piorou, parece não haver saída. E o profissional médico que tanto insistira em uma direção acaba também se ausentando, se eximindo. Onde encontrar forças? Onde encontrar abrigo em meio a esse temporal avassalador? Qual é o caminho certo?

Não é fácil se responsabilizar pela própria saúde. No meu tratamento contra a endometriose, eu tenho conseguido. Nenhuma palavra tem sido capaz de me desanimar e me fazer desistir desse caminho. Não tenho medo de dizer “não” aos hormônios e cirurgias (em determinados casos, a cirurgia pode ser necessária) e “sim” a uma mudança completa de estilo de vida, sem vacilar, sem titubear, sem abrir exceções. Não me deixo intimidar quando um profissional médico fala contra a alimentação natural ou recursos fitoterápicos ou contra a fé, desacreditando por completo ou parcialmente a opção de mudança de estilo de vida. Por isso, os resultados positivos vieram. Venci a endometriose. Continuarei neste caminho.

Mas no meu momento extremo, em dor excruciante, no momento do parto, eu não consegui seguir o caminho certo. Eu orei e Deus me deu a certeza de que o menino nasceria de parto normal. Mas eu não confiei nEle. Achei que ter superado a endometriose e ter engravidado naturalmente já era tudo que eu podia esperar. Racionalizei. O bebê estava nascendo de parto normal, eu tinha contrações, sentia ele nascendo, mas recuei. A palavra de um médico desumanizado e violento prevaleceu. Como eu poderia saber que seria seguro ir em frente, insistir no parto normal, se o médico colocara, de modo irresponsável e inverídico, o argumento de que meu filho não aguentaria? Eu sabia apenas por meio da oração.

Por que eu deveria confiar em uma oração? Confiar em versos bíblicos? Confiar em Deus? Tive o bebê à meia-noite. O médico havia acabado de chegar da praia. Queria descansar...
Por causa das circunstâncias do parto, meu leite demorou para descer. Iniciou-se uma luta enorme para amamentar. Também tive de superar as dores físicas e psicológicas de múltiplas violências obstétricas. Violências que não conseguiria descrever aqui. Nesse processo, a amamentação foi bastante prejudicada. Esse obstetra que fez a cesárea chegou a dizer, após o parto, que “leite é sangue” e que “meu sangue não produziria leite...” Insanidade. Alguém como ele deveria ser afastado do exercício da Medicina, no mínimo.

Já no segundo mês após o parto, passei a produzir mais de 800 ml de leite por dia, em meio a muita luta. Produzir leite e amamentar, tanto quanto superar a endometriose, é uma ciência. Em atitude de oração, encontramos o caminho. Deus tem me dado forças, pois a dor foi indescritível.

João, meu filho amado, mama agora exclusivamente no peito, sem qualquer outro leite como complemento. Continua saudável, forte, assim como no momento do nascimento. Até agora, não teve sequer uma cólica ou resfriado. Ele não teve nenhuma doença comum aos bebês ou qualquer indisposição.

O nascimento de João se enquadra dentro de um contexto maior, sobre o qual é necessário refletir. Estamos nos desumanizando. Relações familiares, profissionais, médico-paciente etc., estão se fragmentando, carregando-se de violências. Não há diferença entre o que o médico fez para mim e o que tem acontecido em crimes bárbaros relatados pelos jornais.

Tanto no processo de nascer quanto no enfrentamento de uma doença, deparamo-nos com situações que minam a resistência. Eu não vejo saída a não ser manter-se firme para que o amor não se esfrie de nosso próprio coração. Manter-se confiante na existência e atuação de Deus para que Sua voz não se apague de nosso coração. Ouvir a voz do Pai não é um privilégio que damos a Ele, mas uma conquista que eu preciso priorizar em minha vida.

Perdi um momento que era meu. O parto normal implica em várias questões. Pesquisas indicam que a gravidez não é a cura para a endometriose, mas o parto normal poderia ser. O parto normal define, em grande parcela, a saúde do bebê, além de beneficiar a mãe. O parto normal é um presente de Deus para a mãe e o bebê que, em vez de serem separados imediatamente após se conhecerem, ficam juntos. O bebê, ao chegar ao mundo, vai para os braços de quem mais o ama. Eu e João ficamos sós naquela noite chuvosa. Ele chegou ao mundo e não teve sequer os meus braços acariciando-o, dizendo a ele o quanto era amado.

Mas é preciso enfrentar as perdas. Não está sendo fácil ainda, mas preciso fazer isso pelo João. Preciso ressignificar. Para amamentar, eu precisava ser forte, mas estava tão frágil. Na minha fragilidade, Deus me fortaleceu. Cada lágrima, cada choro incontido, toda dor, Ele transformou, continua transformando. Minha força está NEle.

Cheguei ao sexto mês de vida do João com a amamentação exclusiva. É um bebê saudável e querido! Amamentar foi para mim o renascimento de João. Hoje, João está com 11 meses, logo fará um ano. Meu leite continua sendo seu alimento, sua vida.